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Muitos afirmam que fazer julgamentos sobre alguém (principalmente vindo de cristãos) é errado porque a Bíblia diz: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mt 7:1). No entanto, essa afirmação é resultado de uma interpretação distorcida. Portanto, é importante entender esse versículo dentro de seu contexto, e não de forma isolada, como muitos costumam fazer para se proteger quando suas más ações são apontadas.
Por causa das inúmeras passagens bíblicas usadas isoladamente de seu contexto, muitos cristãos vivem cheios de dúvidas, o que leva alguns a desacreditarem nos Escritos Sagrados, alegando a existência de contradições nos textos bíblicos (2Tm 3:16).
Quando somos criticados ou temos nossas falhas apontadas, muitas vezes respondemos dizendo: “Não me julgue.” No entanto, somos chamados a julgar. Na verdade, há muitos textos na Bíblia que nos orienta a fazer isso. A Bíblia detalha as atividades dos juízes, nomeados pelo próprio Deus para promover Sua justiça.
Paulo diz: “Aquele que é espiritual julga todas as coisas.” (1Co 2:15). Ele diz ainda: “Ou vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vocês, será que vocês não são competentes para julgar as coisas mínimas? Por acaso vocês não sabem que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!” (1Co 6:2-3).
O próprio Jesus exige que julguemos. Ele diz: “...Quando vocês veem uma nuvem subindo no oeste, logo dizem que vai chover, e assim acontece. E, quando notam que sopra o vento sul, dizem que fará calor, e assim acontece. Hipócritas! Vocês sabem interpretar a aparência da terra e do céu, mas não sabem discernir esta época? E por que não julgam também por vocês mesmos o que é justo?” (Lc 12:54-57).
Repetindo o que Jesus disse, o escritor de Hebreus diz: “Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal.” (Hb 5:13-14).
Julgamento justo
As Escrituras são usadas para explicar as próprias Escrituras. No entanto, quando Jesus diz: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mt 7:1), Ele está se referindo ao julgamento hipócrita. Portanto, nos versículos (3 a 5) do mesmo capítulo, Jesus nos mostra se estamos aptos ou não para julgar. Em Lucas 12 e em João 7 Ele diz que devemos julgar. Cabe a nós examinar exatamente o que Ele quer dizer, pois Jesus não se contradiz. Mas, Ele diz: “...Pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada.” (Mt 18:16)
Ao analisarmos o contexto do capítulo 7 do Evangelho de Mateus, precisamente nos versículos de 1 a 5, podemos perceber que Cristo está orientando os cristãos a serem criteriosos na hora de julgar. Veja que, nos versículos 3 a 5, Ele diz: “Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não repara na trave que está no seu próprio? Ou como você dirá a seu irmão: "Deixe que eu tire o cisco do seu olho", quando você tem uma trave no seu próprio? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.” (Mt 7:3-5)
Aqui, Cristo nos alerta sobre o julgamento hipócrita ou condenatório, que era uma característica frequentemente associada aos fariseus durante o ministério de Jesus. As pessoas que citam “não julgueis” de forma isolada não percebem a ordem de julgar presente nos versículos seguintes, especialmente no v. 5, quando Jesus diz: “Tire primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.” Portanto, Jesus enfatiza que devemos julgar a nós mesmos primeiro, antes de julgar os outros.
No mesmo texto (Mateus 7) Jesus diz: “Não julgueis”, Ele também diz: “Não deis aos cães o que é santo; nem jogue suas pérolas aos porcos.” (Mt 7:6). Não podemos identificar “cachorros” sem julgar. Também não podemos determinar 'porcos' sem julgamento.
Além disso, observe o discernimento e o julgamento exigidos em Mateus 7:15-16 e 20. No contexto mais amplo, Jesus nos orienta a ter discernimento em relação a falsos ensinos e falsos profetas, pois eles “parecem” cristãos, mas seu objetivo é desviar o rebanho (Mt 7:15-20; Lc 6:43-45). Jesus então diz: “Cuidado com os falsos profetas, que se apresentam a vocês disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos vocês os conhecerão." (Mt 7:15-16). Portanto, se quisermos identificar os falsos profetas pelos seus frutos, precisamos julgá-los.
A preocupação de Jesus torna-se mais evidente quando Ele diz: “Não julguem segundo a aparência, mas julguem segundo a reta justiça.” (Jo 7:24). Isto mostra que Jesus quer que julguemos, mas devemos fazê-lo com retidão. Um julgamento justo significa não julgar de acordo com a carne, mas segundo o espírito (Jo 8:15). Isso implica que devemos julgar o fruto, e não o motivo. Não temos a capacidade de julgar o coração dos outros ou suas intenções; somente Deus pode ler o coração dos homens. Portanto, não devemos assumir o julgamento que só Deus pode fazer.
Tiago adverte: “Meus irmãos, vocês não podem ter fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, e ao mesmo tempo tratar as pessoas com parcialidade. Porque, se entrar na sinagoga de vocês um homem com anéis de ouro nos dedos, vestindo roupa luxuosa, e entrar também um pobre muito malvestido, e vocês derem um tratamento especial ao que está vestido com a roupa luxuosa, dizendo: "Você, sente-se aqui no lugar de honra", e disserem ao pobre: "Você, fique em pé" ou "Sente-se ali, abaixo do estrado dos meus pés", será que vocês não estarão fazendo distinção entre vocês mesmos e julgando as pessoas com critérios errados?” (Tg 2:1-4).
Julgamento hipócrita
Em Mateus 7, Jesus está particularmente preocupado com o julgamento hipócrita. Sua mensagem é que não devemos julgar os outros por coisas das quais somos culpados. Cada vez que criticamos alguém de forma hipócrita, estamos nos condenando. Deus não deve encontrar em nós o mal que vemos nos outros. Essa foi a situação dos escribas e fariseus que trouxeram uma mulher apanhada em adultério a Jesus, perguntando por que ela não deveria ser apedrejada de acordo com a Lei de Moisés. Então Jesus respondeu: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra.” (Jo 8:7). Sabendo que também eram pecadores, recuaram rapidamente, um por um.
Então, Jesus perguntou à mulher: “Mulher, onde estão eles? Ninguém condenou você? Ela respondeu: Ninguém, Senhor! Então Jesus disse: Também eu não a condeno; vá e não peques mais.” (Jo 8:10-11).
Aqueles que julgam de forma hipócrita, ou seja, que apontam o erro dos outros com o dedo sujo, muitas vezes escondem algo sobre si mesmos. Suas críticas se tornam um esquema elaborado destinado a distrair os outros de suas próprias falhas. O pensamento deles é que ninguém suspeitaria que o homem que prega que as pessoas não deveriam roubar está, na verdade, roubando cegamente os outros. Muitas vezes, odiamos mais as coisas das quais somos culpados, e assim identificamos nossas falhas nos outros para evitar críticas e desviar a atenção das nossas próprias imperfeições. Mas Deus não pode ser distraído; Ele sabe todas as coisas (ver Sl 139:1-24).
“Por isso, você é indesculpável quando julga os outros, não importando quem você é. Pois, naquilo que julga o outro, você está condenando a si mesmo, porque pratica as mesmas coisas que condena. Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas. E você, que condena os que praticam tais coisas, mas faz o mesmo que eles fazem, pensa que conseguirá se livrar do juízo de Deus?” (Rm 2:1-3).
Conclusão
Um dos princípios do reino de Deus é o equilíbrio espiritual. Isso é repetido diversas vezes na Bíblia. Jesus diz: “Pois com o critério com que vocês julgarem vocês serão julgados; e com a medida com que vocês tiverem medido vocês também serão medidos.” (Mt 7:2). “Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto.” (Ap 13:10). “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado.” (Gn 9:6).
Portanto, o julgamento justo deve ser isento de condenação. Aqueles que acreditam em Jesus não serão condenados no último dia. Jesus nos dá esta garantia: “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24). Paulo também afirma isto: “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8:1).
Graça e paz!
Garberson Alencar
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