Essas palavras fazem parte do primeiro relato de Paulo sobre sua conversão. Embora já tivesse iniciado sua caminhada cristã, ele nem sempre esteve nesse caminho.
A Bíblia não esconde o passado de Paulo, anteriormente conhecido como Saulo. Isso é bom ou ruim? Muito bom! Se alguém com um passado como o de Paulo pôde ser chamado por Cristo, isso traz uma grande esperança para nós!
O primeiro cristão a ser morto por sua fé foi Estevão. Ele foi um dos primeiros diáconos, um homem "cheio do Espírito e de sabedoria" (Atos 6:3). A influência de Estevão e dos diáconos era amplamente reconhecida pela comunidade em Jerusalém, e até mesmo "muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé" (v. 7). No entanto, Saulo esteve diretamente envolvido na morte de Estevão. Ele não foi apenas um espectador passivo; com a autoridade concedida pelo Sinédrio, Saulo supervisionou e aprovou a execução de Estevão (vv. 58, 60).
A descrição do que aconteceu a seguir na vida de Saulo pode nos causar calafrios: "E Saulo consentia na sua morte. Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estevão e fizeram grande pranto sobre ele. Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava no cárcere." (Atos 8:1-3). Saulo maltratava, atacava e destruía todos os cristãos que conseguia prender.
Até então, o raio de ação de Saulo se limitava a Jerusalém e seus arredores, mas isso não lhe era suficiente. "Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, tanto homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém." (Atos 9:1-2). Damasco estava aproximadamente a 225 km ao norte de Jerusalém, uma viagem cansativa. No entanto, suas ameaças e seu desejo de matar os cristãos eram combustível mais do que suficiente para Saulo. Ele era um homem convencido e determinado a destruir a igreja cristã. Que história! Que referências! É muito tentador tentar ocultar um passado dessa natureza.
Cristo vai ao encontro de Saulo e, a caminho de Damasco, tudo mudou para aquele perseguidor da igreja. “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Ele perguntou: “Quem és tu, Senhor?” E a resposta foi: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” (Atos 9:4-6).
“Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco. Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu.” (Atos 9:8-9, itálico acrescentado). O que será que ele pensou durante essas 72 horas? O homem que ele perseguia havia saído ao seu encontro com poder. Tudo o que ele algum dia considerou como correto estava agora sendo desafiado após o encontro com Jesus. Ele existia, era real... e desaprovava suas ações! O que será que passou pela mente de Saulo nesses três dias?
Deus não permitiu que Saulo permanecesse por mais de três dias em sofrimento. Pensar demais em seus erros passados não deveria se estender indefinidamente, pois isso não faria bem a ele. Com isso em mente, o Senhor envia Ananias, um discípulo que vivia em Damasco (Atos 9:10). Ananias deveria visitar Saulo para que ele recuperasse a visão e se preparasse para ser um instrumento valioso nas mãos de Deus. Como será que o discípulo Ananias recebeu essa tarefa? No mínimo, ele fez uma pequena manifestação imediata: “Ananias, porém, respondeu: Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.” (Atos 9:13-14).
Mas o Senhor lhe disse: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel.” (Atos 9:15). Isso foi o suficiente para Ananias. Quem era ele para dar mais credibilidade à reputação de Saulo do que à apreciação de Deus sobre ele? Qualquer que tenha sido a reputação de Saulo, seu passado e suas ações, a ordem do Senhor foi suficiente para que Ananias obedecesse. O primeiro que ele diz a Saulo é: “irmão.” (Atos 9:17).
Irmão? Aquele que pouco tempo atrás perseguia e matava os cristãos… Irmão? Isso mesmo. Quando Deus nos declara dignos de estar em Sua presença, de servi-Lo e de sermos transformados por Ele, já fazemos parte de Sua família; somos filhos de Deus, e cada cristão é nosso irmão e irmã. Ananias entendeu isso, e para ele, isso era o suficiente.
E quanto a Saulo? O capítulo nove nos diz que “Imediatamente, lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver. A seguir, levantou-se e foi batizado” (At 9:18). No entanto, parece que Saulo tinha uma dúvida, que ele mesmo compartilha conosco. Em Atos 22, vemos algo mais que Ananias teve de dizer a Saulo. Isso deve ter feito uma grande diferença para ele, pois, ao narrar pela primeira vez sua conversão, ele inclui estas palavras: “E agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele” (At 22:16).
Ananias viu algo no olhar de Saulo. Viu um homem que ainda lutava com seu passado, com a reputação que ele mesmo havia construído. “Por que te demoras”? Por quê? Será que um passado de erros, e até mesmo de ataques contra Deus, poderia nos impedir de nos aproximarmos dEle? Talvez, por um momento, essa dúvida tenha passado pela mente de Saulo. Com profunda convicção, Ananias fez essa pergunta e o chamou à ação. Saulo tinha motivos para “deter-se”? Sim. Eram motivos suficientes para que ficasse fora do alcance da graça de Deus? Não. Seu passado poderia representar um obstáculo em seu ministério como discípulo de Jesus? Olhando sob uma perspectiva realista e humana, provavelmente sim. Mas, será que qualquer um desses “porquês” deveria impedi-lo de se levantar, ser batizado e começar uma nova vida? Através de Ananias, Deus confirmou que não, claro que não!
Podemos ter muitos motivos para nos aproximarmos de Jesus e, ao mesmo tempo, muitos para nos deter no momento de entregar nossa vida a Ele. Por que você se detém? Talvez você tenha uma lista inteira de razões... e uma lista “muito convincente”. Contudo, assim como Deus vê as coisas, essa lista de “porquês” não impede que Sua graça o alcance. Ele está pronto para que você se levante, seja batizado, lave seus pecados e invoque o Seu nome.
Deus convidou Saulo e o aceitou. Hoje, Deus o convida. Você aceitará o convite? Deixará seus “porquês” aos pés de Jesus? Levante-se e seja batizado; o perdão e a graça de Deus tornam isso possível.
Autoria: Bruno Lacerda
Revisão: Garberson Alencar
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