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Dízimo – Uma Análise à Luz da Palavra de Deus (Parte IV)
O Livro de Malaquias, no cânon judaico tradicional, ocupa o último lugar entre os escritos dos chamados profetas menores, sendo redigido após o exílio babilônico, quando o Templo de Jerusalém já havia sido reconstruído. Há claras indicações de que os sacrifícios e as festas estavam plenamente restaurados. O Templo anterior fora destruído por Nebuzaradão, comandante do exército de Nabucodonosor (II Reis 25:8-9).
O profeta Malaquias era um judeu de firmes convicções, rigorosa integridade e intensa devoção a Deus. Ele foi contemporâneo de Neemias (compare Malaquias 2:8 com Neemias 13:29 e Malaquias 2:10-16 com Neemias 13:23) e de Esdras (compare Malaquias 2:11 com Esdras 9:1-2). Em seus escritos, ele faz uma severa repreensão aos sacerdotes que se tornaram pedras de tropeço, em vez de serem líderes espirituais para o povo.
Embora o Livro de Malaquias tenha apenas quatro capítulos, infelizmente são poucos os que realmente se debruçam para entender seu contexto completo. Essa é a razão pela qual há tantas interpretações equivocadas e tendenciosas, especialmente em relação ao texto de Malaquias 3:8-10. Quando Deus disse: “Todavia, vocês estão me roubando... nos dízimos e nas ofertas.” (Malaquias 3:8), a quem Ele estava se dirigindo? Essa questão deve ser analisada dentro de seu contexto histórico, à luz da Palavra de Deus.
A quem se destinava a mensagem?
Na introdução do livro, é mencionado que a mensagem de Deus foi dada a “Israel, por intermédio de Malaquias” (Malaquias 1:1).
Após o exílio babilônico, a decadência espiritual de Israel era evidente. Essa decadência teve como causa a corrupção moral e doutrinária de seus líderes religiosos. A exposição dos fatos no livro de Malaquias revela que a principal queixa de Deus era contra os sacerdotes, claramente explicitada a partir do versículo 6.
“O filho honra o pai, e o servo a seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? Diz o Senhor dos Exércitos a vocês, ó sacerdotes, que desprezam o meu nome. Mas vocês dizem: “Em que temos desprezado o teu nome?” (Malaquias 1:6).
O texto indica que houve um desvio de conduta por parte dos sacerdotes, que foram culpados de desprezar o nome de Deus. Eles perderam o relacionamento pessoal com Ele. Os sacerdotes do templo, em desobediência à lei que regulamentava as atividades do Templo, recolhiam indevidamente todas as ofertas do povo, sem deixar nada para os levitas, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Os sacerdotes se transformaram em profissionais da religião, totalmente divorciados de Deus.
As passagens seguintes fornecem mais detalhes, especificando os pecados cometidos pelos sacerdotes — não todos, mas aqueles que eram arrogantes e desonestos. Eles foram culpados de profanar o nome de Deus e de oferecer no altar sagrado ofertas inaceitáveis, como animais cegos, coxos e enfermos (Malaquias 1:7-14). Deus se dirige especificamente aos sacerdotes e não ao povo, pois eram eles que acendiam o fogo no altar (Malaquias 1:10).
O capítulo 2 de Malaquias prossegue com a condenação de Deus aos sacerdotes: “Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vocês.” (Malaquias 2:1).
Após descrever alguns pecados dos sacerdotes (Malaquias 1:6-14), Deus passa a anunciar o castigo que seria aplicado a eles:
“Se não ouvirem, e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao Meu nome, diz o Senhor dos exércitos, enviarei a maldição contra vocês, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o vosso coração. Eis que reprovarei a vossa descendência, e espalharei esterco sobre os vossos rostos, o esterco dos vossos sacrifícios; e juntamente com este sereis levados para fora.” (Malaquias 2:2-3).
Não se deve esquecer que a aliança de Deus com Israel incluía uma aliança específica com os sacerdotes da tribo de Levi. No entanto, Deus declarou que os sacerdotes haviam corrompido o pacto de Levi:
“Então vocês saberão que eu lhes enviei este mandamento, para que se mantenha a minha aliança com Levi, diz o Senhor dos Exércitos. Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e foi isso que Eu lhe dei, para que me temesse; e, de fato, ele me temeu e tremeu por causa do meu nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e nenhuma injustiça se achou em seus lábios. Ele andou comigo em paz e em retidão, e afastou muitos da iniquidade. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca todos devem buscar a instrução, porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos. Mas vocês se desviaram do caminho; levaram muitos a tropeçar na lei; vocês corrompendo a aliança de Levi, diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 2:4-8).
Como consequência, Deus os tornou “desprezíveis e indignos diante de todo o povo...” (Malaquias 2:9).
Deus continua falando aos sacerdotes em Malaquias 2:10-17, condenando-os pelos casamentos com mulheres estrangeiras. Ele censurou a hipocrisia dos sacerdotes, que continuavam a oferecer sacrifícios enquanto viviam em rebelião. Essa conclusão é evidente, pois Malaquias 2:13 apresenta uma forte repreensão aos sacerdotes, já que eram eles que literalmente choravam sobre o altar. O povo de Judá e Israel não tinha acesso direto ao altar.
Em relação aos casamentos mistos com mulheres pagãs, a mesma situação ocorreu no tempo de Neemias, quando Deus ficou profundamente desgostoso com os sacerdotes (Neemias 13:27-30).
Em Malaquias 3:1-5, a repreensão de Deus é novamente dirigida aos sacerdotes. Nessa passagem, ao anunciar o envio do "mensageiro" — uma profecia cumprida mais tarde na pessoa de João Batista, que prepararia o caminho para o Messias —, Deus declarou que o juízo começaria por "Seu Templo", com o objetivo de purificar "os filhos de Levi". Essa associação de palavras, como "templo" e "filhos de Levi", está diretamente ligada ao sacerdócio levítico.
Com a centralização do poder por parte dos sacerdotes, as normas de Deus foram desvirtuadas, desobedecidas, e as coisas santas, profanadas. Como consequência, os sacerdotes, detentores de todo o poder, passaram a oprimir as viúvas, os órfãos e os estrangeiros, ao reter os dízimos que lhes eram destinados. Esses dízimos não consistiam em dinheiro, mas sim em alimentos. Essa prática perversa já havia sido denunciada por Deus através do profeta Ezequiel.
“Os seus sacerdotes transgridem a minha lei e profanam as minhas coisas santas. Não fazem distinção entre o santo e o profano e não ensinam a diferença entre o puro e o impuro. Não respeitam os meus sábados, e assim sou profanado no meio deles. Os seus líderes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa para derramarem o sangue, para destruírem vidas e ganharem lucro desonesto. Os seus profetas cobrem isso com cal, tendo visões falsas e predizendo mentiras. Dizem: Assim diz o Senhor Deus, sem que o Senhor tenha falado. O povo da terra pratica extorsão e anda roubando. Fazem violência aos pobres e necessitados, e injustamente oprimem os estrangeiros.” (Ezequiel 22:26-29).
O texto acima foi escrito muitos anos antes de Malaquias. Já naquela época, Deus havia transmitido mensagens duras contra os sacerdotes, condenando suas más práticas. Indiscutivelmente, foram eles os principais opressores do povo, os que roubavam e agiam com violência contra os aflitos e necessitados.
Assim, respeitando o contexto, é justo concluir que o pronome “vocês” ou “vós”, mencionado em Malaquias 3:7-10, refere-se aos sacerdotes desonestos. Esses sacerdotes eram culpados de roubar a Deus, razão pela qual Ele os repreendeu severamente, conforme Malaquias 1:6 e 2:9. Deus estava cansado da desonestidade deles. Por essas razões, as maldições mencionadas estavam sendo direcionadas a eles (Malaquias 1:14, 2:2 e 3:9).
Um histórico de perversão do sacerdócio levítico
O sistema sacrificial concedia aos sacerdotes uma excelente oportunidade de ensinar o plano da salvação aos transgressores. No entanto, os rituais celebrados pelos sacerdotes no santuário foram pervertidos. O sacrifício de animais tornou-se uma fonte de renda para eles. Alguns sacerdotes corruptos perceberam claramente que, quanto mais o povo pecasse e trouxesse ofertas pelo pecado e ofensas, maior seria a porção que lhes caberia.
Chegaram ao ponto de incentivar o povo a pecar. Está escrito acerca dos sacerdotes corruptos: “Alimentam-se do pecado do meu povo e o seu maior desejo é que o povo continue a pecar” (Oséias 4:8). Este texto afirma que os sacerdotes, em vez de admoestar o povo e insistir para que deixassem o pecado, tinham “desejo” pela maldade deles, almejando que pecassem novamente para trazer mais ofertas pelo pecado.
A degradação do sacerdócio ocorreu já na primeira fase de sua existência (1 Samuel 2:13-16). Deus ordenara que a gordura fosse queimada sobre o altar e que, se a carne fosse comida, ela deveria ser fervida. Contudo, os sacerdotes desejavam a sua porção crua, com a gordura, para poderem assá-la. Assim, a oferta sacrificial deixou de ser o que deveria ser, transformando-se em uma festa de glutonaria. A Palavra de Deus diz: “Era, pois, muito grande o pecado desses moços diante do Senhor, porque eles desprezavam a oferta do Senhor” (1Samuel 2:17).
Com o passar do tempo, a corrupção se generalizou a tal ponto que o cargo de sumo sacerdote adquiriu um caráter político, sendo designado pelo governo. Os lucros das grandes festas eram repartidos entre os oficiais superiores. Todo o plano de Deus foi corrompido pelos sacerdotes. Por isso, a expressão de Jesus: A minha casa será chamada Casa de Oração. Mas vocês estão fazendo dela um covil de salteadores.” (Mateus 21:13).
Muitos sacerdotes nutriam um amargo ressentimento contra os profetas. Eles odiavam os homens enviados para repreendê-los. Muitas das perseguições contra os profetas no Antigo Testamento foram lideradas ou instigadas pelos sacerdotes. Os profetas foram perseguidos, torturados e mortos por eles.
Os principais oponentes de Cristo eram sempre os sacerdotes, os escribas e os fariseus. Quando o Senhor Jesus foi apresentado perante Pilatos, foram os sacerdotes que O acusaram (Marcos 15:3). Ao Se oferecer no Calvário, Ele tornou o sistema sacrificial obsoleto. Pessoalmente, durante o Seu ministério, Cristo não ofereceu nenhum sacrifício, pois Ele não pecou. E, ao ensinar os homens a não pecar, Ele atingiu o cerne da perversão sacerdotal.
Não se deve, entretanto, pensar que todos os sacerdotes eram ímpios. Muitos homens fiéis podiam ser contados entre eles.
Conclusão
Os sacerdotes foram incapazes de discernir o profundo significado espiritual do seu serviço simbólico. As gloriosas verdades, que estavam claramente delineadas nesse serviço sagrado, foram obscurecidas devido à sua desobediência aos preceitos de Deus.
De maneira solene, os sacerdotes impenitentes foram advertidos sobre o dia do julgamento que viria, e para eles foi endereçado o seguinte convite de Deus: “Voltem para mim, e eu voltarei para vocês...” (Malaquias 3:7).
Rejeitando este afetuoso convite de Deus, os sacerdotes selaram o seu destino. Mais tarde, próximo ao fim do ministério terrestre de Cristo, os principais sacerdotes ouviram do Mestre a parábola da vinha (Mateus 21:33-46). Após retratar o ato final de impiedade deles, Cristo lhes faz a pergunta: “Quando, pois, vier o dono da vinha, que fará àqueles lavradores?” (v. 40).
Os sacerdotes haviam seguido a narrativa de Jesus com profundo interesse. Sem perceberem a relação do assunto consigo mesmos, a resposta deles foi: “Fará perecer horrivelmente aqueles malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe entregarão os frutos no tempo certo.” (v. 41). Inadvertidamente, eles haviam pronunciado sua própria condenação.
Com a morte de Cristo, o sacerdócio levítico foi extinto, e, no ano 70 d.C., o Templo de Jerusalém foi destruído pelos romanos. Desde então, Deus desejou atuar em cada indivíduo, transformando-o em um templo Seu, no qual pudesse ser exercido um sacerdócio santo e aceitável:
“Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que está em vocês e que vocês receberam de Deus, e que vocês não pertencem a vocês mesmos?” (1Coríntios 6:19)
“...também vocês, como pedras vivas, são edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerem sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo.” (1Pedro 2:5).
“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes dAquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1Pedro 2:9).
Nunca esqueçamos que Deus é honrado pela pureza do coração com que O amamos, pelo tesouro com que enriquecemos os necessitados e pelo esplendor do nosso temor e dedicação a Ele.
Graça e paz!
Fonte: Verdade em Foco
Revisão: Garberson Alencar
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