O debate religioso é complexo e muitas vezes causa confusão entre os seguidores de diferentes tradições. Esse argumento se reflete não apenas nas igrejas e mesquitas, mas também nos meios de comunicação, nos materiais de ensino, nas ruas e, infelizmente, também em conflitos violentos. Ao longo da história, desde os tempos de Abraão e seus filhos Ismael e Isaque, as diferenças religiosas não só marcaram divisões espirituais, mas também políticas e econômicas. Líderes poderosos, tanto de países cristãos quanto islâmicos, expuseram essas divergências, e os conflitos entre nações têm, por vezes, afetado profundamente a economia global.
Para entender as diferenças entre duas das religiões mais influentes do mundo, o Cristianismo e o Islã, é necessário examinar a sua literatura sagrada e compreender de onde provêm os ensinamentos que moldam essas crenças.
A Bíblia
A palavra "Bíblia", originária do grego tà biblía, significa "os livros". A Bíblia é uma coleção de 66 livros, escrita por cerca de 40 autores ao longo de um período de mais de mil anos, inspirados pelo Espírito Santo. Ela contém os ensinamentos que, segundo a fé cristã, foram dados por Deus aos seus profetas para serem propagados à humanidade ao longo do tempo. Existem duas versões principais da Bíblia: a versão cristã (com o Antigo e o Novo Testamento) e a versão judaica (o Tanakh, que é dividido em três partes: a Lei, os Profetas e os Escritos).
A Bíblia Sagrada ensina vários pontos fundamentais que são, em grande parte, contestados pelo Alcorão. Entre os principais ensinamentos da Bíblia que o Alcorão rejeita estão:
A crença em um Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Exceto alguns cristãos).
Jesus como Deus encarnado, concebido pelo poder do Espírito Santo.
A crucificação e ressurreição de Jesus.
O Espírito Santo como a terceira pessoa da Trindade (Exceto alguns cristãos).
A doutrina de que o ser humano é pecador e necessita de salvação.
A salvação através da fé no sacrifício de Jesus Cristo.
A presença de inúmeros milagres e profecias ao longo da Bíblia.
O Alcorão
O Alcorão é considerado pelos muçulmanos a obra literária suprema da língua árabe e é a relíquia mais sagrada do Islã. Ele contém as revelações feitas por Alá (Deus) ao Profeta Muhammad (Maomé), por meio do anjo Gabriel, a quem os muçulmanos chamam de Espírito Santo, durante um período de 23 anos. Para os muçulmanos, o Alcorão é a orientação divina para a humanidade, oferecendo ensinamentos sobre moralidade, justiça e retidão.
Embora o Alcorão reconheça muitos elementos em comum com a Bíblia, ele diverge em vários pontos. As principais diferenças doutrinárias do Alcorão em relação à Bíblia são:
Unicidade de Deus: No Islã, existe apenas um Deus, Alá, que é único e não possui pais, filhos ou qualquer igual. Ele é Onisciente, Todo-benevolente e cheio de graça. A ideia da Trindade é rejeitada.
Jesus: No Alcorão, Jesus é considerado um dos profetas de Alá, mas não é visto como Deus ou Filho de Deus. Ele é respeitado como um mensageiro importante, mas a crença cristã na divindade de Jesus é refutada.
A Crucificação: O Alcorão nega a crucificação e a ressurreição de Jesus. Segundo o Islã, Jesus não foi crucificado; em vez disso, alguém que se parecia com ele foi crucificado, e os cristãos foram enganados sobre esse evento.
Gabriel é o Espírito Santo: Para os muçulmanos, Gabriel é o mensageiro de Alá e não é considerado um "Deus" ou parte de uma Trindade. O Alcorão também considera Gabriel como o "Espírito Santo", mas de uma forma distinta da doutrina cristã.
Natureza humana: O Islã ensina que o ser humano nasce bom por natureza, sem a ideia de "pecado original" que caracteriza a teologia cristã. O ser humano tem a capacidade de fazer boas escolhas e é responsável por suas ações.
Salvação: A salvação, segundo o Alcorão, não vem pela fé única, mas sim por um esforço contínuo, com sinceridade, boas ações e a misericórdia de Alá. O conceito de salvação através da fé em Jesus, como ensinado na Bíblia, é rejeitado.
Milagres: O Alcorão em si não faz referência a milagres realizados por Jesus ou outros profetas, ao contrário da Bíblia, que está cheia de relatos milagrosos. No entanto, o Alcorão considera a própria revelação como um "milagre" literário.
Conclusão
Embora a Bíblia e o Alcorão compartilhem algumas raízes comuns, especialmente no que diz respeito a figuras como Abraão e outros profetas, suas diferenças são profundas, refletindo visões distintas sobre a natureza de Deus, a pessoa de Jesus, o caminho para a salvação e a revelação divina. Essas diferenças não são apenas teológicas, mas também influenciam aspectos históricos, sociais e políticos das tradições cristã e islâmica. A compreensão dessas diferenças é essencial para um diálogo inter-religioso respeitoso e produtivo.
Graça e paz!
Garberson Alencar.
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