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Acredito que todos já perceberam que a Bíblia é dividida em duas partes: o Antigo e o Novo Testamento. No entanto, essa divisão não existe nos textos originais nem na narrativa geral das escrituras. Esses nomes foram acrescentados pela Igreja Romana, muito tempo após os primeiros escritos.
Definindo o que é Testamento
O testamento é um documento que pode ser alterado ou revogado pelo testador, total ou parcialmente, a qualquer momento, por meio de um novo testamento. Sempre que um novo testamento é elaborado, o anterior é automaticamente revogado (anulado), pois o novo documento reflete a vontade atual do testador, enquanto o antigo representa a vontade anterior. Em outras palavras, quando o testador muda de opinião, ele faz um novo testamento para anular o anterior, que reflete sua vontade anterior.
A relevância do Antigo Testamento hoje
É por esse motivo que muitas pessoas acreditam que tudo o que está escrito no Antigo Testamento não tem mais aplicação para os dias de hoje (exceto o dízimo, que muitos líderes religiosos ainda enfatizam). No entanto, nos escritos originais não há distinção entre Antigo e Novo Testamento. A expressão mais precisa para "Novo Testamento" seria "Nova Aliança" ou "Aliança Renovada".
No caso de uma aliança, a situação é bem diferente. Quando uma nova aliança é estabelecida, isso não significa que a anterior foi anulada. Ao contrário de um testamento, em que a criação de um novo documento anula automaticamente o anterior, nem toda nova aliança implica a anulação das alianças anteriores.
A aliança restaurada por Jesus
Jesus jamais veio para abolir a aliança de Deus com Seu povo; Ele veio para restaurá-la e torná-la ainda mais plena. No livro de Jeremias, podemos ver claramente onde Deus fala por meio do profeta: "Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá" (Jeremias 31:31).
Esse texto não afirma que a nova aliança seria com um povo completamente diferente, como defende a teologia da substituição, que sustenta que a Igreja substituiu Israel, que o Novo Testamento substituiu o Antigo. Contudo, essa teologia é falha, falsa e não consta na narrativa bíblica; ela foi acrescentada muito tempo depois.
A ideia da teologia da substituição surgiu a partir de homens que corromperam a igreja primitiva, como, por exemplo, Inácio de Antioquia, e posteriormente Marcião. Marcião, com conceitos voltados para a gnose, acreditava na existência de dois Deuses: o Deus do Antigo Testamento (da Antiga Aliança) e o Deus do Novo Testamento (da Nova Aliança). Ele defendia que o Deus do Antigo Testamento era um Deus mal.
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A influência de Marcião e a Teologia da Substituição
Marcião, com sua visão gnóstica, começou a disseminar a ideia de uma divisão entre o Antigo e o Novo Testamento. Ele acreditava que o Deus do Antigo Testamento (da Antiga Aliança), o Deus dos judeus, hebreus e israelitas, não era o mesmo Deus de Jesus, revelado na Nova Aliança. Muitas pessoas, de forma consciente ou inconsciente, acabaram adotando essa visão, acreditando que hoje vivemos em uma aliança completamente diferente da anterior. No entanto, as Escrituras deixam claro que a aliança com Israel continua e permanece. O que mudou é que essa aliança foi restaurada por meio do nosso Messias, Jesus Cristo, e que os Seus Mandamentos não foram abolidos.
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Marcião é amplamente considerado pelos escritores e historiadores dos primeiros séculos como um herege. Veja o que diz o livro História Eclesiástica, do escritor e historiador Eusébio de Cesareia:
"Efetivamente, das outras heresias, algumas têm numerosos mártires, e nem por isso vamos aprová-las nem confessar que possuem a verdade. Os primeiros, ao menos, os que se chamam Marcionitas por seguir a heresia de Márcion, eles também dizem que têm inúmeros mártires, mas ao próprio Cristo não confessam conforme a verdade."
“Também contam que além destes, durante a mesma perseguição e na mesma cidade, uma mulher sustentou o mesmo combate; mas uma tradição afirma que esta era da heresia de Márcion.”
Essas são apenas duas das muitas menções a Marcião e suas heresias presentes no livro.
A Nova Aliança é anunciada pelos profetas
Deus, por meio do profeta Jeremias, diz: "Porém, esta será a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Eu colocarei minha lei no seu íntimo, e a escreverei nos seus corações, e serei o seu Deus, e eles serão o meu povo." (Jeremias 31:33). A diferença é que, na Nova Aliança, a Lei será colocada em nossos corações, e não mais em tábuas de pedra.
Em Ezequiel, Deus diz: "Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne" (Ezequiel 36:26). O povo daquela época tinha um coração de pedra, por isso a Lei era colocada em tábuas de pedra. No entanto, após a restauração de Israel feita por Jesus, o povo de Deus passaria a ter um coração de carne, e a Lei de Deus seria escrita em nossos corações, no nosso íntimo, no nosso entendimento.
Jesus e cumprimento da Lei
Não é à toa que Jesus, nosso Salvador, deixou bem claro no Evangelho de Mateus que não veio destruir a Lei nem os Profetas, mas veio cumprir: "Não pensem que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir" (Mateus 5:17). A palavra "cumprir", no original grego, significa: tornar completo, completar, tornar pleno, dar finalidade... Esse foi o propósito da vinda de Jesus: Ele não veio abolir a Lei de Deus, mas trazer o verdadeiro sentido da Lei do Criador, por meio do Seu amor, da fé Nele e da obediência a Ele.
O resumo dos Mandamentos por Jesus
Ao resumir os mandamentos como "Amar a Deus e amar ao teu próximo como a ti mesmo", Jesus não estabeleceu um novo mandamento, mas mencionou os textos de Deuteronômio 6:5 e Levíticos 19:18, que são os mandamentos — a Lei que Deus deu ao Seu povo por meio de Moisés.
Então, essa é a verdade bíblica: Jesus veio renovar a aliança com o Seu povo, e todo aquele que crer Nele se torna um israelita espiritual, filho de Abraão pela fé. "Saibam, portanto, que os que têm fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria os gentios pela fé, preanunciou o evangelho a Abraão, dizendo: Em ti serão abençoados todos os povos." (Gálatas 3:7-8).
Conclusão
Em resumo, a Bíblia nos ensina que a aliança de Deus com o Seu povo não foi abolida, mas restaurada por meio de Jesus Cristo. Ele veio cumprir a Lei no sentido de dar plenitude, dando-lhe o verdadeiro significado, e todo aquele que crer Nele se torna parte dessa aliança espiritual, sendo filho de Abraão pela fé.
A separação entre o Antigo e o Novo Testamento, frequentemente interpretada como uma substituição, é, na verdade, uma criação humana. A Nova Aliança é, de fato, uma renovação da promessa de Deus, agora escrita em nossos corações. Como cristãos, somos chamados a viver essa aliança com Deus, fundamentados no amor, na fé e na obediência a Ele.
Graça e paz!
Garberson Alencar.
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