O batismo é necessário para a salvação? A resposta é "Não".
Vejamos o que as Escrituras ensinam sobre esta questão:
A princípio, passagens como Atos 15 e Romanos 4 deixam bem claro que a nossa salvação não depende de nenhum ato extra, mas unicamente da graça divina. Somente através da fé no sacrifício expiatório de Jesus Cristo é que podemos ser salvos (Romanos 3:22, 24-26, 28, 30; 4:5; Gálatas 2:16; Efésios 2:8-9; Filipenses 3:9, etc.).
Não podemos negar a importância do batismo, porém, não implica dizer que se não formos batizados corremos o risco de perder a nossa salvação. O batismo nas águas é um ato simbólico de fé pública o qual o cristão professa publicamente a sua fé em Cristo, dando autenticidade a sua transformação onde o velho homem morre para o pecado, nascendo um novo homem para Deus. É através do batismo que o indivíduo testifica o que Deus fez na sua vida, mostrando que o novo homem agora pertence a Jesus.
Se a nossa salvação dependesse do batismo, não seria qualquer batismo que nos salvaria, portanto, teríamos primeiramente que saber qual o significado da palavra "batizar" e qual seria o tipo de batismo válido. A palavra grega que é traduzida como "batismo" significa "imergir ou mergulhar". Nos antigos escritos gregos, podia-se ler sobre um navio "afundando" e a palavra traduzida como "batizado" ser usada. Neste caso, o batismo por aspersão ou por efusão não teria validade, pois não tem nenhuma relação com o batismo mencionado nas Escrituras. Portanto, apenas o batismo por imersão seria válido, pois a Bíblia só nos mostra um tipo de batismo (Efésios 4:5-6; Atos 8:36-37).
É importante notar que o significado do batismo na Bíblia é associado à identificação do cristão com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Em um sepultamento, todo o corpo é colocado na sepultura. Sendo o batismo um símbolo do sepultamento do indivíduo para o pecado e de sua identificação com o sepultamento de Cristo, como poderia a aspersão ou a efusão transmitirem esses significados? A imersão em água retrata o sepultamento com Cristo, e a saída da água retrata a ressurreição de Cristo. Essa forma é o único e verdadeiro método de batismo que ilustrado na Bíblia.
Se o batismo fosse necessário para a salvação, ele seria enfatizado sempre que o evangelho fosse apresentado nas Escrituras. No dia de Pentecostes, Pedro mencionou o batismo em seu sermão (Atos 2:38). No entanto, no mesmo sermão no pórtico do Templo de Salomão (Atos 3:12-26), Pedro não faz nenhuma referência a batismo, mas atribui o perdão dos pecados ao arrependimento (3:19). Se o batismo é necessário para o perdão dos pecados, por que Pedro não disse isso em Atos 3?
Paulo nunca fez do batismo parte de suas pregações do evangelho. Em 1 Coríntios 15:1-4, Paulo faz um breve resumo da mensagem do evangelho que ele pregou, mas não há menção ao batismo. Em 1 Coríntios 1:17, Paulo faz a seguinte afirmação: "Afinal, Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho", diferenciando assim o evangelho do batismo. Passagens como essas, mostram que o batismo não é necessário para a salvação. Se o batismo fosse necessário para a salvação, por que Paulo não batizou ao invés de pregar o evangelho? Ninguém teria sido salvo. Paulo entendia claramente que o batismo e o evangelho eram coisas distintas e, portanto, sem eficácia alguma para a salvação.
A argumento mais convincente de que o batismo não é necessário para a salvação são aqueles que foram salvos sem o batismo. A mulher penitente (Lucas 7:37-50), o paralítico (Mateus 9:2), o publicano (Lucas 18:13-14) e o mal feitor na cruz (Lucas 23:39-43), todos experimentaram o perdão dos pecados fora do batismo, mas apenas por meio da fé. Vale ressaltar que não existe registro algum de que nenhum dos apóstolos tenham sido batizados, mas Jesus os declarou limpos de seus pecados (João 15:3, observe que quem os purificou foi a Palavra de Deus, e não o batismo).
A Bíblia nos dá muitos outros exemplos de pessoas que foram salvas antes de serem batizadas. Em Atos 10:44-48, Cornélio e os que estavam com ele foram convertidos através da mensagem de Pedro e evidentemente foram salvos pelo Espírito Santo antes mesmo de serem batizados (v. 44). Na verdade, foi o fato de eles terem recebido o Espírito Santo que levou Pedro a batizá-los (cf. v. 47).
Um dos princípios básicos para uma boa interpretação bíblica é fazer a exegese dos textos, utilizando técnicas da hermenêutica, comparando as Escrituras com as próprias Escrituras. Só assim é que podemos compreender o texto no seu sentido completo e adequado. Visto que a Bíblia não se contradiz, qualquer interpretação que contradiga o ensino da Bíblia deve ser rejeitada.
Como vimos neste estudo, o batismo e outros rituais não são necessários para a salvação, e nenhum texto isolado deve ser usado para ensinar o contrário. Portanto, devemos procurar interpretar essas passagens comparando-as com outras que estejam em harmonia com o ensino geral das Escrituras. Com isso em mente, vejamos algumas passagens que parecem ensinar que o batismo é necessário para a salvação.
Em Atos 2:38, Pedro parece vincular o perdão dos pecados ao batismo, mas não é o que parece. Existem várias interpretações plausíveis deste versículo que não ligam o perdão dos pecados ao batismo. “Arrependei-vos (e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo) para o perdão dos seus pecados”. Portanto, de acordo com o ensinamento consistente do Novo Testamento, o perdão está ligado ao arrependimento, e não ao batismo (cf. Lucas 24:47; João 3:18; Atos 5:31; 10:43; 13:38; 26:18; Efésios 5:26).
É possível que, para o público judeu do primeiro século (assim como para Pedro), a ideia do batismo agregasse valor tanto espiritual quanto ao mundo físico. Em outras palavras, quando alguém falava de batismo, geralmente se referia a ambas as ideias – a realidade e o simbolismo. É mostrado que Pedro faz uma forte conexão entre esses dois pontos nos capítulos 10 e 11. Em 11:15-16 ele relata a conversão de Cornélio e amigos, ressaltando que no momento de sua conversão eles foram batizados pelo Espírito Santo. Depois de ver isso, ele declarou: “Certamente ninguém pode recusar a água para serem batizados aqueles que receberam o Espírito Santo...” (10:47).
A questão é: se eles tiveram o testemunho interno do Espírito Santo através do batismo espiritual, deveria haver também um testemunho público através do batismo nas águas. Isto pode não apenas explicar Atos 2:38, mas mostrar também que Pedro falou tanto da realidade quanto do simbolismo, embora apenas a realidade remova os pecados. O batismo nas águas não é um elemento de salvação, mas um ato simbólico; e como tal serve tanto como um reconhecimento público por parte dos que estão presentes, quanto uma confissão pública (por parte do convertido) de que alguém foi batizado pelo Espírito.
Marcos 16:16, um versículo frequentemente usado para mostrar que o batismo é necessário para a salvação, é na verdade uma prova do contrário. Observe que o fator propulsor para a condenação nesse versículo não é a falta do batizado, mas a falha em acreditar. O batismo é mencionado na primeira parte do versículo porque era o símbolo extra que acompanhava a crença interior, pois, quem cresse mostrava publicamente através do batismo.
É importante mencionar que muitos estudiosos textuais acham improvável que os versículos 9-20 são uma parte autêntica do evangelho de Marcos. Não podemos discutir aqui todas as evidências textuais que levaram muitos estudiosos do Novo Testamento a rejeitar a passagem. No entanto, esses estudiosos textuais alegam que tais versículos não são encontrados na língua original a qual o Novo Testamento fora escrito.
O batismo nas águas não parece ser o que Pedro tinha em vista em 1 Pedro 3:21. A palavra inglesa “batismo” é simplesmente uma transliteração da palavra grega batizado, que significa "imergir". Baptizo nem sempre se refere ao batismo nas águas no Novo Testamento (cf. Mateus 3:11; Marcos 1:8; 7:4; 10:38-39; Lucas 3:16; 11:38; 12:50; João 1:33; Atos 1:5; 11:16; 1 Coríntios 10:2; 12:13).
Portanto, Pedro não está falando sobre imersão em água, como indica a frase “não sobre a remoção da sujeira da carne”. Ele está se referindo à imersão na morte e ressurreição de Cristo através de “um apelo a Deus por uma boa consciência”, ou arrependimento. Portanto, não é o ato simbólico que salva, mas a realidade interna da obra regeneradora do Espírito (cf. Tito 3:4-8).
No meu humilde ponto de vista, não acredito que Romanos 6 ou Gálatas 3 fale do batismo nas águas. Vejo nessas passagens uma referência ao batismo no Espírito Santo (cf. 1 Coríntios 12:13).
Em Atos 22:16, Paulo conta as palavras de Ananias depois de sua experiência na estrada de Damasco: "Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o seu nome". É mais correto conectar a frase “lavar os seus pecados” com “invocar o Seu nome”. Os pecados de Paulo foram purificados não pelo batismo, mas pela invocação do Seu nome.
O batismo nas águas é certamente importante. Contudo, o Novo Testamento não ensina que o batismo é necessário para a salvação.
Graça e Paz!
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Garberson Alencar
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