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O Dízimo na Era Patriarcal

Atualizado: 13 de jan.


Dízimo – Uma Análise à Luz da Palavra de Deus (Parte I)


O objetivo desse artigo é esclarecer o assunto do dízimo de uma maneira sucinta, utilizando as Escrituras Sagradas como fonte de referência. Tendo em vista a relevância do tema, esta série de estudos será dividida em três partes:


Parte I - O dízimo na era patriarcal;

Parte II - O dízimo durante a vigência do sistema sacerdotal levítico;

Parte III - O dízimo no Novo Testamento.


Os relatos bíblicos serão analisados de forma abrangente, com cada texto sendo interpretado com seriedade e total imparcialidade. O tema é de extrema importância e não pode ser tratado de maneira superficial. É essencial que os líderes religiosos estejam dispostos a dialogar abertamente sobre essa questão, pois a falta de disposição para esse diálogo pode abrir espaço para dúvidas e insegurança entre os fiéis.


A prática de pagar ou entregar o dízimo não teve origem entre os israelitas. Civilizações antigas pagãs, como os fenícios, árabes, babilônios, cartagineses, chineses, gregos e romanos, também adotavam essa prática. Evidências em tabletes cuneiformes confirmam que o dízimo era uma prática comum entre os povos da Mesopotâmia. (Consulte: W. von Soden, The Ancient Orient, Eerdmans, 1994, pp. 188-198; A. Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia, University of Chicago, 1977, pp. 183-198; W. Eichrodt, Theology of the Old Testament, SCM, 1987, Vol. I, pp. 141-177; e Harris, Archer, Waltke, Theological Wordbook of the Old Testament, Moody Press, 1980).


Muitos cristãos professos têm demonstrado preocupação e evitam aprofundar-se nas investigações bíblicas sobre esse importante tema. No entanto, é importante lembrar que, quando os propósitos de Deus são compreendidos sob a perspectiva correta, grandes vitórias espirituais podem ser alcançadas.A primeira parte desta série examina e esclarece alguns conceitos equivocados, frequentemente ensinados em diversas instituições religiosas, sobre a prática do dízimo na era patriarcal. Afinal, esse dízimo era obrigatório e sistemático? Que lições podemos extrair hoje das experiências de Abrão (posteriormente chamado de Abraão por Deus) e Jacó?


O dízimo de Abraão sobre os despojos de guerra


Abraão foi chamado por Deus para sair de sua terra natal, Ur dos caldeus, onde os habitantes praticavam o paganismo, e dirigir-se à terra de Canaã. Em obediência ao chamado divino, Abraão mudou-se inicialmente para Harã, onde permaneceu até a morte de seu pai. Ao partir para Canaã, a Palavra de Deus relata que Abraão levou consigo sua esposa, Sara, seu sobrinho Ló (filho de seu falecido irmão), além de todos os bens que havia adquirido e as pessoas que se juntaram a ele durante sua estadia em Harã (Gênesis 12:5).

 

Devido à grande quantidade de bens que Abraão e Ló possuíam, surgiu uma contenda entre os pastores de gado de ambos. Para evitar conflitos, os dois conversaram e, de forma pacífica, decidiram se separar, conforme registrado em Gênesis 13. Abraão permaneceu na terra de Canaã, enquanto Ló escolheu ir para as proximidades da cidade de Sodoma (Gênesis 13:12).


Tudo parecia estar indo bem até que um conflito eclodiu na região. Cinco reis se rebelaram, cansados de servir durante doze anos ao rei de Elão, Quedorlaomer. Os reis rebeldes eram: Bera, rei de Sodoma; Birsa, rei de Gomorra; Sinabe, rei de Admá; Semeber, rei de Zeboim; e Belá, rei de Zoar (uma cidade próxima ao Egito).


O rei de Elão, Quedorlaomer, reagiu à rebelião convocando outros três reis para ajudá-lo a sufocar os insurgentes. Os aliados de Quedorlaomer eram: Anrafel, rei de Sinar (região da Babilônia); Arioque, rei de Elasar; e Tidal, rei de Goim. Essa batalha ficou conhecida nas Escrituras Sagradas como “a guerra de quatro reis contra cinco” (Gênesis 14:1-17).


Os reis rebeldes, por não possuírem experiência em combate, foram impiedosamente derrotados e subjugados pelas forças lideradas pelo rei Quedorlaomer. Os vencedores saquearam as cidades da planície, levando como cativos todos os habitantes, além de confiscarem seus bens e suprimentos. Entre os capturados estava Ló, que vivia nos arredores da cidade de Sodoma, juntamente com todos os seus bens (Gênesis 14:12).


Abraão tomou conhecimento da calamidade que havia atingido seu sobrinho Ló por meio de um homem que escapara da batalha. Movido por uma profunda afeição por Ló, o patriarca decidiu resgatá-lo. Para isso, reuniu uma tropa de elite composta por trezentos e dezoito bravos guerreiros, todos criados em sua casa e devidamente preparados para o combate. Além disso, buscou o apoio de três aliados regais: os irmãos Manre, Escol e Aner, governadores das planícies dos amorreus, que se uniram a ele com seus respectivos grupos. Juntos, partiram em perseguição aos invasores. A vitória foi decisiva: todos os cativos foram libertados e os bens recuperados (Gênesis 14:16).


Em seguida, a Palavra de Deus registra o encontro entre Abraão e Melquisedeque, rei de Salém. Como sacerdote do Deus Altíssimo, Melquisedeque trouxe pão e vinho, pronunciou uma bênção sobre Abraão e deu graças ao Senhor, que operara um grande livramento por meio de Seu servo. Em reconhecimento, Abraão deu-lhe o dízimo de tudo (Gênesis 14:18-20; Hebreus 7:1-2).


Era costume que os despojos de guerra ficassem com os vencedores. No entanto, Abraão não empreendeu essa expedição com o intuito de obter lucros e se recusou a tirar vantagens da situação, estipulando apenas que seus aliados recebesse a parte que lhes era de direito. Um exemplo disso é o relato da insistência do rei de Sodoma para que Abraão ficasse com os bens materiais, devolvendo apenas as pessoas sequestradas por Quedorlaomer. Abraão respondeu-lhe:


Levantei minha mão ao Senhor, o Deus altíssimo, o possuidor dos céus e da terra, que desde um fio até a correia, dum sapato, não tomarei cousa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abraão, salvo tão somente o que os jovens comeram, e a parte que toca aos varões que comigo foram, Aner, Escol e Manre; estes que tomem a sua parte.” Gênesis 14:22-24.


Foi exatamente isso que Abraão fez. Após descontar os custos operacionais da guerra, ele devolveu aos legítimos donos 90% (noventa por cento) dos despojos recuperados e deu 10% (dez por cento) ao sacerdote Melquisedeque, conforme um costume praticado entre os povos pagãos da antiguidade.O texto bíblico nos diz que Abraão deu o dízimo de tudo, mas não de seu patrimônio pessoal, e sim exclusivamente dos despojos recuperados na guerra. Esse entendimento está em conformidade com o que está escrito em Hebreus 7:4: “Considerai, pois, como era grande esse a quem até Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos.


Não há registro bíblico que comprove que esse dízimo era sistemático e obrigatório. Também não há menção da obrigatoriedade de dizimar os despojos de guerra.

 

Embora Abraão não seja um exemplo de dizimista para os nossos dias, Deus não o condenou. Pelo contrário, “depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abraão, numa visão, dizendo: Não temas, Abraão; Eu sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo.” (Gênesis 15:1).


O dízimo de Jacó


Quando o assunto é dízimo, não se pode ignorar a história de Jacó. Jacó era filho de Isaque, neto de Abraão, herdeiro da promessa e patriarca escolhido por Deus, de quem descendia o povo de Israel.Jacó estava a caminho de Harã, conforme orientado por sua mãe, devido à ira de seu irmão Esaú. “Partiu, pois, Jacó de Beer-Seba e foi em direção a Harã. Chegou a um lugar onde passou a noite, porque o sol já se havia posto. Tomou uma das pedras do lugar, a pôs debaixo da cabeça e deitou-se ali para dormir.” (Gên. 28:10-11).


Neste sonho, Jacó viu uma escada que se estendia até o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. No sonho, Deus estava de pé, acima da escada, e disse a Jacó:


Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra em que estás deitado, Eu a darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul; por meio de ti e da tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; pois não te deixarei até que haja cumprido aquilo de que te tenho falado.” Gênesis 28:13-15.

 

Em resposta a estas promessas de Deus, Jacó fez um voto: “...Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa para vestir, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus; e a pedra, que pus como coluna, será a casa de Deus; e, de tudo o que me concederes, certamente te darei o dízimo.” (Gênesis 28:20-22)

 

Sem dúvida, a trajetória de Jacó é extraordinária e merece atenção especial. Por isso, ele poderia ser considerado um exemplo notável por aqueles que defendem a obrigatoriedade do dízimo dentro da teologia sistemática. Contudo, ao analisarmos esse tema à luz dos princípios presentes na história de Jacó, somos conduzidos a reflexões que apontam para conclusões diversas:


1. Ao fazer um voto a Deus, Jacó demonstrava que não era um dizimista habitual. Considerando que ele foi criado sob os rigorosos preceitos da religião patriarcal, seria possível que Jacó não tivesse aprendido essa prática com seu avô ou seu pai, caso ela de fato existisse? O voto é, por natureza, uma proposta de algo novo, feita em busca de uma experiência espiritual mais profunda. Como alguém poderia fazer um voto sobre algo que já fosse parte de sua rotina?

 

2. O dízimo de Jacó era condicional: primeiro a bênção, depois o dízimo. É importante notar que o ônus da prova estava com Deus. Se Deus não o abençoasse, Jacó não daria o dízimo. Curiosamente, as instituições religiosas hoje ensinam o oposto: a bênção de Deus é apresentada como condicional ao dízimo — primeiro se dá o dízimo, depois vêm as bênçãos.

 

3. Há ainda um terceiro aspecto interessante nesse relato. Jacó propõe a Deus cinco condições específicas como parte de seu voto:


• Se Deus for comigo, e

• me guardar nesta jornada que empreendo, e

• me der pão para comer e

• roupa para vestir,

• de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai...


As cinco condições estabelecidas por Jacó estão claramente conectadas pela preposição “e” (Gênesis 28:20). Isso significa que, caso Deus atendesse apenas quatro das cinco condições, Jacó estaria automaticamente dispensado de cumprir o voto. A lista de requisitos apresentada por Jacó incluía: a presença de Deus, proteção, comida, roupa e paz. De acordo com o voto, ele daria o dízimo somente se todas as condições fossem plenamente atendidas, sem exceções.


Se Jacó de fato cumpriu sua promessa e deu o dízimo, não sabemos, pois não há qualquer registro bíblico que confirme isso. O que sabemos é que todas as condições estabelecidas por ele foram atendidas por Deus ao longo dos 20 anos seguintes, culminando com seu retorno a Canaã (Gênesis 31:38; 33:18-20).


Conclusão


O exemplo de Abraão, além de refletir apenas um evento isolado em sua vida, não parece ser resultado de uma orientação divina, mas sim de um costume prevalente na sociedade de sua época. Em nenhum momento é mencionado, ou sequer sugerido, que Abraão tenha entregue o dízimo em obediência a uma lei. O lado positivo dessa ação está no respeito e na honra que ele demonstrou ao rei e sacerdote Melquisedeque. Além disso, não há qualquer registro bíblico indicando que Abraão tenha transmitido esse ensinamento aos seus filhos.


No caso de Jacó, a entrega do dízimo estava vinculada a um voto realizado em um momento de temor e incerteza. Não houve qualquer imposição legal ou orientação divina para tal ato, tampouco orientação por parte de seu pai, Isaque, ou de seu avô, Abraão, indicando que esse procedimento fosse uma prática transmitida ou obrigatória.

As experiências de Abraão e Jacó são os únicos exemplos relacionados ao dízimo encontrados na era patriarcal, antes da promulgação da lei dada a Moisés. Em ambos os casos, não há registro nas Escrituras Sagradas de que o dízimo tenha sido obrigatório ou praticado de forma sistemática. Além disso, essa prática era comum entre as civilizações pagãs da antiguidade, sendo vista como um sinal de gratidão e devoção.

 

Graça e paz!

Fonte: Verdade em Foco

Revisão: Garberson Alencar



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