INTRODUÇÃO
No tradicional cânon judaico, o livro de Malaquias é o último entre os escritos dos chamados profetas menores, pois foi escrito após o exílio babilônico, quando o templo de Jerusalém já havia sido reconstruído, pois havia sinais claros de que os sacrifícios e as festas foram totalmente restaurados. O Templo anterior tinha sido incendiado por Nebuzaradão, general de Nabucodonosor (2 Reis 25:8, 9).
O profeta Malaquias era um judeu com convicções firmes, integridade estrita e intensa devoção a Deus. Ele era contemporâneo de Neemias (compare Malaquias 2:8 com Neemias 13:29 e Malaquias 2:10-16 com Neemias 13:23) e Esdras (compare Malaquias 2:11 com Esdras 9:1 e 2). Em seus escritos, há uma severa repreensão aos sacerdotes que se tornaram pedras de tropeços em vez de serem os líderes espirituais do povo.
Embora o livro tenha apenas quatro capítulos, infelizmente poucos tentaram realmente compreender seu contexto completo. É por isso que tem tantas interpretações equivocadas e tendenciosas quanto ao texto de Malaquias 3:8-10. Quando Deus disse: “Todavia vós Me roubais... nos dízimos e nas ofertas alçadas”. Com quem ele estava falando? Esta questão deve ser analisada em todo o seu contexto histórico à luz da Palavra de Deus.
PARA QUEM É A MENSAGEM?
A parte introdutória do livro menciona que a mensagem de Deus foi dada a “Israel por meio de Malaquias". (Malaquias 1:1).
O declínio espiritual de Israel após o exílio babilônico foi notório. Essa decadência foi causada pela corrupção moral e doutrinária de seus líderes religiosos. Um estudo dos fatos no livro de Malaquias mostra que a principal repreensão de Deus foi contra os sacerdotes, o que é claramente explicado no versículo 6. “O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se Eu, pois, sou pai, onde está a Minha honra? E se Eu sou amo, onde está o temor de Mim? Diz o Senhor dos exércitos a VÓS, Ó SACERDOTES, que desprezais o Meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós desprezado o Teu nome?” (Malaquias 1:6).
O texto mostra que os sacerdotes eram culpados de blasfemar o nome de Deus. Eles perderam seu relacionamento pessoal com Ele. Os sacerdotes do templo, que ignoravam a lei que rege o funcionamento do templo, coletavam indevidamente as ofertas de toda a nação, não deixando nada para os levitas, órfãos, viúvas e estrangeiros. Os Sacerdotes tornaram- se profissionais da religião e se separaram completamente de Deus.
As passagens seguintes dão informações mais detalhadas e especificam os pecados dos sacerdotes, não todos, mas aqueles que eram arrogantes e desonestos. Eles eram culpados de profanarem o nome de Deus e oferecerem no altar sagrado ofertas inaceitáveis, como animais cegos, mutilados e doentes (Malaquias 1:7-14). Deus está falando especificamente aos sacerdotes, não ao povo, porque eram os sacerdotes que acendiam o fogo no altar (Malaquias 1:10).
Malaquias 2 continua com Deus condenando os sacerdotes: "Agora, ó SACERDOTES, este mandamento é para VÓS." Malaquias 2:1.
Descrevendo alguns dos pecados dos sacerdotes (Malaquias 1:6-14), Deus agora descreve sua punição: “Se não ouvirdes, e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao Meu nome, diz o Senhor dos exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o vosso coração. Eis que vos reprovarei a posteridade, e espalharei sobre os vossos rostos o esterco, sim, o esterco dos vossos sacrifícios; e juntamente com este sereis levados para fora.” (Malaquias 2:2 e 3).
Não se deve esquecer que a aliança de Deus com Israel incluía Sua especifica aliança com os sacerdotes da tribo de Levi. No entanto Deus disse que os SACERDOTES corromperam o pacto de Levi: “Então sabereis que Eu vos enviei este mandamento, para que o Meu pacto fosse com Levi, diz o Senhor dos exércitos. Meu pacto com ele foi de vida e de paz e Eu lhes dei para que Me temesse; e ele Me temeu, e assombrou-se por causa do Meu nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e a impiedade não se achou nos seus lábios; ele andou comigo em paz e em retidão, e da iniquidade apartou a muitos. Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, por que ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes o pacto de Levi, diz o Senhor dos exércitos.” (Malaquias 2:4-8).
Como resultado, Deus os fez “desprezíveis e indignos diante de todo o povo...” (Malaquias 2:9).
Deus continua a falar aos SACERDOTES em Malaquias 2:10-17 e os condena por causa dos casamentos com mulheres estrangeiras. Deus censurou a hipocrisia dos sacerdotes, por continuarem oferecendo sacrifícios, enquanto viviam em rebelião. Esta conclusão é óbvia, porque Malaquias 2:13 tem um forte impacto sobre os sacerdotes, porque foram eles que literalmente choraram no altar. O povo de Judá e Israel não tinha acesso direto ao altar.
Em relação aos casamentos mistos com mulheres pagãs, a mesma situação existia no tempo de Neemias, quando Deus estava muito irado com os sacerdotes (Neemias 13:27-30).
Em Malaquias 3:1-5, a repreensão de Deus é dirigida novamente aos SACERDOTES. Nesses textos, Deus anunciou o envio de um "mensageiro", profecia que mais tarde se cumpriu na pessoa de João Batista, que prepara o caminho para o Messias, Deus anunciou que o juízo começaria pelo “Seu Templo”, para purificar “os filhos de Levi”. Esta associação de palavras: “templo”, “filhos de Levi”, tudo tem a ver com o sacerdócio levítico. Quando os sacerdotes centralizaram o poder, as regras de Deus foram distorcidas, desobedecidas e as coisas sagradas profanadas. Como resultado, os sacerdotes que detinham todo o poder começaram a oprimir viúvas, órfãos e estrangeiros porque não entregavam seus dízimos. Este dízimo não era em dinheiro, mas em comida. Deus já havia condenado esta prática errada, através do profeta Ezequiel:
“Os seus sacerdotes transgridem a Minha lei, e profanam as Minhas cousas santas; entre o santo e o profano não fazem diferença; nem discernem o impuro do puro; e de Meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles. Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem o sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza. E os seus profetas têm feito para eles reboco de cal não adubada, vendo vaidade, e predizendo-lhes mentira, dizendo: Assim diz o Senhor Jeová; sem que o Senhor tivesse falado. Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazem violência ao aflito e ao necessitado, e ao estrangeiro oprimem sem razão.” (Ezequiel 22:26-29).
O texto acima foi escrito muitos anos antes de Malaquias. Já naquela época, Deus enviou mensagens duras contra os sacerdotes, condenando suas más ações. Sem dúvida, eles eram opressores do povo e também aqueles que roubavam e usavam a violência contra os sofredores e os pobres.
Portanto, respeitando o contexto, é justo concluir que o pronome "você" mencionado em Malaquias 3:7-10 se refere aos SACERDOTES desonestos. Esses sacerdotes eram culpados de roubar a Deus e, portanto, Ele os admoestou severamente de acordo com Malaquias 1:6 e 2:9. Deus estava cansado de sua desonestidade. Por essas razões, maldições caíram sobre eles (Malaquias 1:14, 2:2 e 3:9).
UM HISTÓRICO DA CORRUPÇÃO DO SACERDÓCIO LEVÍTICO
O sistema sacrificial proporcionou aos sacerdotes uma excelente oportunidade para ensinar aos desobedientes o plano de salvação. No entanto, os rituais realizados pelos sacerdotes no santuário eram distorcidos. Os sacrifícios de animais tornaram-se uma fonte de renda para eles. Alguns sacerdotes corruptos viram muito bem que quanto mais as pessoas pecavam e quanto mais oferendas pelo pecado e culpa eles ofereciam, maior era sua parte.
Chegaram ao ponto de encorajar as pessoas a pecar. Está escrito sobre os sacerdotes pervertidos: “Alimentam-se do pecado do Meu povo, e da maldade dele têm desejo ardente.” (Oséias 4:8.). Este texto afirma que, em vez de advertir as pessoas e exortá-las a abandonar seus pecados, eles tinham “desejo ardente” de sua maldade e ansiavam que pecassem novamente para que retornassem, com uma nova oferta pelo pecado.
A falência espiritual do sacerdócio ocorreu na primeira fase de sua existência (1 Samuel 2:13-16). Deus ordenou que a gordura fosse queimada no altar, e que se a carne fosse comida, ela deveria ser cozida. No entanto, os sacerdotes queriam sua porção crua com gordura para que pudessem fritar. Deixou de ser uma oferta de sacrifício, mas tornou-se uma festa tentadora. A palavra de Deus diz que “era, pois, muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor.” (I Samuel 2:17).
Com o tempo, a corrupção se espalhou tanto que o cargo de sumo sacerdote adquiriu um caráter político, ao ser ele nomeado pelo governo. Os lucros das grandes festas eram divididos com os oficiais superiores. Os sacerdotes arruinaram todo o plano de Deus. Daí a expressão de Jesus: “A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de ladrões.” (Mateus 21:13).
Muitos dos sacerdotes tinham um ódio amargo contra os profetas. Eles odiavam os homens que foram enviados para repreendê-los. Muitas das perseguições movidas contra os profetas no Antigo Testamento, foram chefiadas ou instigadas pelos sacerdotes. Eles perseguiram, torturaram e mataram os profetas.
Os adversários de Cristo sempre foram os sacerdotes, escribas e fariseus. Quando Jesus foi levado perante Pilatos, os sacerdotes o acusaram (Marcos 15:3). Ao sacrificar-se no Calvário, ele tornou o sistema de sacrifício inútil no futuro. Cristo pessoalmente não ofereceu um sacrifício durante Seu ministério, porque Ele não pecou, e ensinando as pessoas a não pecar, Ele atingiu o sacerdote no coração da corrupção.
No entanto, não se deve pensar que todos os sacerdotes eram maus. Muitos homens fiéis podem ser contados entre eles.
CONCLUSÃO
Os sacerdotes foram incapazes de perceber o profundo significado espiritual do seu serviço simbólico. Neste serviço santo, verdades gloriosas claramente definidas foram obscurecidas porque foram desobedientes aos comandos de Deus.
Os sacerdotes impenitentes foram solenemente avisados do dia do juízo que se aproximava, e lhes foi enviado o seguinte convite de Deus: “Tornai vós para Mim e Eu tornarei para vós.” (Malaquias 3:7). Ao rejeitar este afetuoso chamado de Deus, eles selaram seu destino. Mais tarde, perto do fim do ministério terreno de Cristo, os sumos sacerdotes ouviram a parábola do Mestre sobre a vinha (Mateus 21:33-46). Depois de descrever as maldades dos sacerdotes, Cristo lhes faz a pergunta: “Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?” Os sacerdotes acompanhavam a história de Jesus com profundo interesse. Qualquer que fosse o relacionamento que eles tivessem, a resposta deles foi esta: “Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.” Inadvertidamente eles proferiram suas próprias condenações. Com a morte de Cristo, o sacerdócio levítico foi extinto e em 70 d.C. os romanos destruíram o templo em Jerusalém.
Desde então, Deus quer trabalhar em cada um e fazer dele o seu templo, onde se possa exercer um sacerdócio santo e aceitável: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Coríntios 6:19). “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.” (I Pedro 2:5). “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” (I Pedro, 2:9).
Nunca esqueçamos que Deus é honrado pela pureza de nossos corações com que amamos, o tesouro com que enriquecemos os pobres e a glória de nosso temor e devoção.
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